
A dica desta terça é livro novinho! A edição da Vozes é de
2018; o original em francês é de 3 anos antes. Eu não conhecia o autor, recebi
a sugestão em uma atividade online que faço. Vantagens das boas conexões
humanas. Poderia ter deixado passar batido, mas o título me convocou:
Desaparecer de si: uma tentação contemporânea".
Tá, alguém poderia dizer, é porque você é psicóloga que o livro lhe interessou.
Não posso desconsiderar este fator, mas quem já não se deparou com momentos de
querer parar a vida, desaparecer um pouco, com aquela famosa expressão "para
o mundo que eu quero descer"?
Le Breton é um psicólogo/antropólogo que vem discutindo as relações do corpo
como política na contemporaneidade. Neste livro, utiliza vários trechos
literários para dialogar. Aborda "maneiras discretas de desaparecer",
fadigas, burnout, depressões (esta parte achei fraquinha!), o desaparecer da
adolescência (bom), traz uma boa análise das práticas de choking game e seus
inúmeros nomes (bem bom), as mudanças com o envelhecimento (tem uma frase
ótima: "Ninguém sabe onde sua velhice o leva"), o desaparecimento de
si pelo Alzheimer (interessante perspectiva, contudo me parece que há uma
desconsideração das bases biológicas da doença. Mas a parte dos cuidados
pró-vida psíquica está bem formulada), o desaparecer das férias e uma análise
do partir definitivamente e abandonar os laços.
É um livro que toca muitos temas. É profícuo para disparar discussões.
Já no início, construí internamente uma interlocução com os textos do coreano
Byung-Chul Han que atualmente vem ganhando espaço por discutir a sociedade do
cansaço. Para além da sociedade disciplinar, Han aborda a internalização da
exigência de autoprodução e produtividade. Quase não há descanso. O sujeito
passa a ser escravo de si mesmo. Nestes cenários, como não querer desaparecer?
Estará tudo perdido? Prefiro ser otimista a apocalíptica. Entendo que é preciso
encontrar gente interessante, criar espaços de descanso, criativos e de
prazer. Montaigne escreveu "Precisamos reservar-nos um quarto de
fundo totalmente nosso, aberto, no qual estabelecemos nossa verdadeira
liberdade, lugar primordial de retiro e solidão" (Montaigne in Le Breton,
2018) Não se trata de isolamento, mas de espaço liberto para si. Então,
junto a sugestão deste texto, vem o desejo de que possamos ser mais livres e
lúdicos no dia a dia.
Fica a dica!
Luciana